De modo geral, odeio motéis. O proibido, o vulgar, em nada me atrai.
Esses dias estava dando uma pesquisada em várias marcas de dispositivos de prazer, na forma como eles fazem seu marketing, sua comunicação. Imediatamente, cheguei à seguinte conclusão: agora entendi porque os ambientes de motéis me parecem agressivos, desagradáveis, não gosto desse tom, de como se constroem as narrativas do erótico.
Como minha cabeça fica fritando, lembrei de Monique Evans que tinha um programa na Rede TV, no início dos anos 2000, abordando essa temática. Mesmo sendo musa do carnaval, com um corpo explorado sexualmente na mídia, mesmo tendo um programa para falar sobre o prazer, que eu adolescente e curiosíssima assistia, ela relatava com frequência: nunca havia chegado lá.
Vivemos numa sociedade ocidental-cristã extremamente contraditória. Por um lado, demonizamos o prazer, principalmente o feminino e, por outro, o vulgarizamos através de performances, incluindo as cantadas e narradas. Logo, não é de se espantar que tantas mulheres e também homens tenham dificuldade de adentrar com verdade nos momentos de intimidade.
Nossa sexualidade, sem dúvida, acaba se conectando aos papéis de gênero, de como um homem e de como uma mulher devem ser. Podemos apontar de início o papel do viril e da submissa, da que serve e do que é servido. Obviamente, podem haver inversões. Veja que curioso: quando um homem heterosexual gosta de ser penetrado isso se chama de “inversão”, já que esse seria o papel da mulher.
A indústria de fetiches, ou pelo menos boa parte dela, me parece estar conectada aos papéis sociais de gênero e suas subversões. Não sei se sou conservadora nesse aspecto, e penso que todos são livres para fazerem o que bem entenderem, mas quando se criam realidades paralelas, mundos obscuros, não sei se estamos num lugar saudável. Na minha visão, todos esses papéis, as performances, toda ideia de pecado, vai nos distanciando de nossas verdades.
A gritaria do quarto ao lado em moteis sempre me incomodou. Será que gritamos porque queremos de fato gritar ou porque acreditamos que essa é a performance para agradar? E nossas caras e bocas são reais? Vindas de dentro? Ou são as que achamos que deveríamos fazer? Será que precisamos tatuar pimentas em nossas virilhas para mostrar que somos sensuais ou isso é algo que pode ser expressado com naturalidade?
E a cama redonda serve de quê? Já fui em motéis de muito baixo orçamento e em alguns mais caros. Para mim, os espaços mais agradáveis são aqueles que não se diferenciam tanto de um hotel comum. Nada contra quem curte essa estética. Quando era solteira e morava com minha mãe, e quando não queria levar uns boys às escondidas para sua casa (fiz muito isso para não ter que pisar em motéis), acabei descobrindo uma excelente estratégia: reservar uma diária em flats.
Na primeira semana que estava namorando com João e ainda não tinha assinado o contrato de aluguel do nosso apartamento, foi o que fizemos. Hoje, para sair da rotina, a gente adora viajar. Ir numa praia perto, ou num lugar mais longe quando possível, ficar numa pousada, hotel ou num Airbnb confortável. Longe de mim querer ditar regras. Cada um sabe de si. O que questiono é a forma de comunicação em torno do prazer, de como narramos esses momentos, inclusive para nós mesmas.
Me diz: quando você foi estimulada a buscar o que faz sentido para si? Em minha jornada, fui descobrindo: para mim, o prazer está muito mais conectado à nossa natureza, ao sagrado, mas não de forma piegas. Embora exista um histórico de violações femininas, deveríamos vir ao mundo através do amor e do prazer. Isso é a ordem da natureza. Se você ainda tem dúvidas do que faz sentido para si, busque, descubra, perceba. O Perfeito, inclusive, pode te ajudar. Mas não é tanto sobre o prazer físico, embora seja importante. É também sobre o tipo de momento e companhia ideais para você.