Uso sugador de clitóris há 3 anos, todos os dias, e nunca fui viciada

Guarda chuva vermelho - Rafal Olbinski

Na verdade, uso há mais tempo. Há uns quatro anos. E não todos os dias. Porém, queria lembrar da ícone “tapa na pantera”. Então, teve que rimar. Quero contar um pouco da minha relação com prazer a partir desse gadget revolucionário que tanto tenho espalhado a palavra. Conhecem o perfeito, sem defeitos? O melhor de todos? Com um custo/benefício incrível? Acordei com ele hoje entre os lençóis. Esqueci de guardar na cabeceira antes da faxineira chegar. Esse mês, estou numa casa na praia. Então, a faxineira é nova, não me conhece. Deve estar cheia de suspeita, desconfiada.

A que trabalha na casa da minha mãe, um dia muito intrigada, me perguntou o que era aquilo. Sempre esqueço de guardar. Expliquei e contei do meu empreendimento. Apesar ser evangélica e contra essas coisas, me disse: as mulheres precisam disso mesmo, os homens não tão valendo nada. Inclusive, ela tinha acabado de levar um golpe de um namorado. Gabriela também me narrou uma cena: foi usar o prefeito, sem defeitos antes de dormir, bem cansada, e acordou estatalada segurando o sugador na mão. Achei engraçado. O fato é: para muitas de nós, esse aparelhinho das deusas foi incorporado à nossa rotina. Podemos dizer à nossa rotina de autocuidado para ficar bonitinho.

Recebo muitos comentários de mulheres brincando que estão viciadas. E outras perguntam, temerosas, se podem se viciar. Tudo pode viciar, obviamente. Mas a construção do vício depende mais de questões para além do prazer do estímulo físico provocado pelo sugador. O vício vem dos nossos vazios emocionais. E não que eu não tenha meus, mas nunca fui viciada no perfeitinho. Ultimamente, tenho usado pouco. Simplesmente tenho esquecido. Minha frequência de uso tem muito a ver com o momento. Na tmp, quando fico cheia de tesão e melancólica, bem passional por dentro, o bixinho costuma funcionar bastante. Ele é o que me salva. E não só nesse momento. 

Então assim, embora para algumas de nós possa significar vício, não vai ser para a grande maioria. Para mim, deveríamos nos preocupar muito mais, por exemplo, com o vício em pornografia, principalmente para os homens e também para as mulheres. Depois de descobrir a palavra do sugador de clitóris, juro, nunca mais recorri a pornografia quando senti vontade de gozar. Até recebi um feedback parecido dias desses. Não sou a radical do tipo que acha que pornografia deveria ser proibida ou coisas do tipo. O universo do prazer contado através de imagens, sons, narrativas, também tem seu valor. Porém, do modo como é feita, acaba sendo um grande desserviço para a humanidade.

Lembram daquele meu papo de que as narrativas que consumimos moldam grande parte do nosso comportamento? Pensa aí: no que a pornografia influenciou sua relação com o sexo? Pensa aí: como ela foi, de certa maneira, criando um roteiro a ser seguido no ato. E o pior: como a pornografia foi definindo que o prazer para mulher estava conectado a violências como tapas, xingamentos, enforcadas, gargantas profundas forçadas e coisas do tipo. E não que você não possa curtir alguns desses itens. Não é isso. A questão é: por que acham que todas as mulheres gostam exatamente disso? 

Não curto ser subjugada. O domínio e a submissão no sexo podem funcionar como uma dança. A gente não precisa se fixar num único papel. Pelo menos, não para mim. Mas, dentro disso, cada um tem suas preferências e está tudo bem. O ponto é só pensarmos se nossas preferências são genuínas ou se vem de coisas externas a nós. Sempre fico me perguntando: por que os homens têm tanto prazer em nos chamar de putas na cama? Isso não viria de uma construção de que o sexo é algo errado para as mulheres? De uma projeção de que a mulher curte ser diminuída em algum lugar? 

Quando transamos dentro de um roteiro performático nos distanciamos do real prazer. Ou, pelo menos, de um prazer mais intenso. Entendo a potencialidade do sexo a partir do amor entre dois seres ou mais, se quiser. E pode ser amor de uma noite só. Não estou falando de fofura. Pode ser intenso, com submissão, domínio, até uns tapas se você curtir e mesmo assim ser amor. Um encontro de quem não está ali para disputar, performar, mas para dar e receber. Se conectar. Não há nada mais incrível e prazeroso. O problema é que usamos o sexo para tapar nossos buracos. Também uso, eventualmente, não nego. Mas só a consciência do que é um sexo bom já transforma. Nos ajuda a não cair em enrascadas. 

Por tudo, acho o sugador de clitóris uma ferramenta fantástica. Provocando sensações e permitindo que a gente saia da fantasia (#nãoprecisadehistorinha), ele ajuda a nos conectarmos com o real, a sair da performance. Quando estava em Brasília, uma mulher que comprou o perfeitinho veio conversar comigo. Estava surpresa e preocupada de sempre jorrar. Expliquei o fenômeno (o descrevo com mais no manual do link secreto que vem junto com o perfeito). Confesso também ficar surpresa com tantos relatos semelhantes. De fato, o sugador vai ao ponto certo. Mas a cultura de um povo, como a de Ruanda, ensinam ancestralmente técnicas para as mulheres desaguarem. O feminino lá é sagrado.

Como muitas de nós tem acessado esse aparelhinho mágico, é provável que estejamos, coletivamente, nessa era de aquários, com saturno em peixes a partir desse ano, mas antes em aquários, quando o sugador foi popularizado, criando movimentos de retorno ao feminino. Não da forma bizarra que os coachs têm difundido. Como crio tendo como referência gênero, relacionamentos e sexualidade, espalhar essa palavra faz todo sentido para mim. Além de, claro, poder patrocinar meu trabalho por aqui. Nesse caminho, se a gente convencionou dizer que o amor é uma energia feminina  (não sei se concordo) e que precisamos retornar a ela (o que tenho escrito bastante nas últimas semanas), o prazer também pode ser encarado assim. Afinal, quem veio para esse mundo com clitóris?  


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