O poder das revoluções individuais e silenciosas

  Pau Brasil de Tarsila do Amaral

Hoje faz mais ou menos um ano que tive a ideia de vender o perfeito, sem defeitos, o melhor sugador de clitóris. Após o São João do ano passado peguei covid e fiquei uma semana trancada no quarto, quando me surgiu esse lampejo. Tantas coisas aconteceram desde então. Tantas emocionantes histórias lidas, ouvidas. Estive bastante contemplativa nos últimos dias diante desse marco temporal.

Quando escrevi a primeira vez em 2019 sobre essa ferramenta maravilhosa, esse aparelhinho das deusas voltado para nosso órgão máximo de prazer, foi um burburinho. Tinha acabado de descobri-lo e estava fazendo minha própria jornada de autoconhecimento, de não dependência do outro para acessar meu prazer.

Hoje compartilho esse caminho e sei que vocês também seguem compartilhando. São tantos comentários públicos, depoimentos secretos, conversas, tantos “Dani, você mudou minha vida”. Me sinto absolutamente grata por estar desenvolvendo esse trabalho. Mães comprando para as filhas, filhas comprando para as mães, amigas se presenteando, companheiras e companheiros agraciando seus amores. Uma lindeza só!

Apesar de muitos comentários de ódio, o despertar de consciência sobre nosso direito ao prazer é muito, infinitamente maior. Uma das meninas escreveu numa das minhas postagens o seguinte: nossa reconexão com o prazer pode representar a quarta onda do movimento feminista. Para mim, faz muito sentido. Uma excelente leitura do movimento social contemporâneo.

Num dos depoimentos gravados em formato de vídeo (procure pelo rells intitulado “reivindique seu direito ao prazer”) contei a história de uma mulher de idade muito próxima a minha, ela teve seu gozo cerceado por crenças machistas e religiosas, está ressignificando sua relação com o prazer através da ferramenta do perfeito, sem defeitos. “Essa também é minha história”, muitas outras reforçaram. Não faço ideia de onde esse movimento vai nos levar. Porém, não tenho dúvidas, será para lugares muito melhores.

Redescobrir as nossas potências e vivenciá-las, creio eu, nos dará muito mais poder. Por isso, digo: o prazer feminino é revolucionário. E estamos construindo essa revolução em nossa intimidade, muitas vezes, sem espalhar aos quatro ventos. Vivendo nossos processos, nossas próprias revoluções interiores que, pouco a pouco, vão gerar revoluções muito mais visíveis. Estamos resgatando tudo aquilo que uma cultura opressora nos privou. Nos tornando seres mais autônomos.

Dentro do meu ciclo, quase todas as mulheres foram violentadas emocionalmente e/ou fisicamente por seus parceiros, por membros da sua família. A cultura do estupro grita diariamente em nossa casa. Vivemos dentro de um sistema que odeia as mulheres, que nos coloca o tempo todo no lugar da servidão. Cuidamos do outro, mas quem cuida da gente? Esse movimento, não só do prazer, mas da irmandade que estamos desenvolvendo, faz com que cuidemos uma das outras e da gente mesma.

Tenho absoluta certeza que isso vai contribuir para desenvolvermos, cada vez mais, relações saudáveis. Para estiparmos de vez relações através da dinâmica oprimido-opressor, sujeito-objeto, podendo vivenciar o amor de forma mais bonita. Essa revolução que estamos criando afirma: mulheres têm direito ao amor; a gente merece se amar e receber o mais puro amor.


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