Se a gente não gastasse tanto tempo buscando ser amada, poderíamos estar saboreando o prazer do propósito.

Os dez maiores (n° 7) de Hilma af Klint

Essa coisa de propósito pode ser superestimada, eu sei. Uma linguagem meio coach. Para mim, no entanto, sempre foi importante olhar para isso. Com minha vibe jovem mística, penso: todos nós temos as nossas missões. Viemos para esse plano com algum propósito. E não precisa ser uma grande missão. Podem ser coisas simples, consideradas até banais, como limpar um banheiro numa praça.

Para escrever as reflexões de hoje, me inspirei na aula Como viver um dia feliz da professora Lúcia Helena Galvão. Ela aborda filosoficamente aspectos da narrativa do filme Dias Perfeitos, cujo personagem central, um faxineiro, vive dias simples, quase repetidos, com muita tranquilidade e certa felicidade. Apesar de ainda não ter assistido à obra, imediatamente pensei: se a gente não gastasse tanto tempo buscando ser amada, poderíamos viver melhor, poderíamos encontrar mais facilmente o nosso propósito.

Muitos de nós está no modo sobrevivência, lutando incessantemente para se manter no jogo da vida. Ser amado também faz parte do jogo da vida. Por isso, essa coisa de propósito pode parecer sem sentido. 

Me recordei do belíssimo livro Torto Arado, de Itamar Vieira Júnior, que retrata tempos de uma família camponesa no sul da Bahia. Para quem já leu a obra, consegue perceber que, apesar da pobreza, da luta pela sobrevivência, há muito propósito na vida de todos os personagens. Cada um ali vai descobrindo e vivendo sua missão. É muito lindo de se ler.

Hoje, olho para as gerações mais novas com bastante preocupação. Se percebo quanto tempo de vida desperdicei buscando me enfiar em certos padrões para ser amada, admirada, o quanto quem está ao meu redor se submeteu e se submete a relações sem futuro, a rotinas de vida que não fazem sentido, para os mais novos, que já nasceram digitais, tudo parece ser pior. Temos carecido de valores, de estrutura, de entender a importância do tempo, da necessidade de busca por conhecimento, aperfeiçoamento.

Ser mulher não é fácil. Somos infinitamente cobradas. Mas, estamos todos quebrados. Mulheres, homens, pessoas de todas as cores e classes. Rodamos feeds e desperdiçamos possibilidades. Queremos status, poder aquisitivo, reconhecimento de forma rápida, muitas vezes sem entender o processo de construção, de autoconstrução de quem somos e do que queremos. De como e onde temos mais habilidade de construir, de contribuir.

Nosso tempo nos faz olhar extremamente para fora e, às vezes, tudo que precisamos é olhar para dentro. Sair um pouco do ego, pensar quem somos, o que queremos e porque queremos. Revisitar sonhos, planos, desejos. Retraçar rotas. Descobrir como podemos contribuir. Servirmos ao outro apenas para nos sentirmos mais amadas? Ou com a real intenção de transformar, contribuir, servir?

Tem tanta coisa nesse planeta a ser melhorada, infinitos problemas a serem resolvidos. Tantos sentimentos que ainda precisam ser canalizados, consolidados. E todos nós podemos ser portais, ferramentas. Para isso, não tenho dúvidas: é preciso, primeiro, começar por si.


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Eu, menina branca, nunca fui parada pela polícia. Depois de me relacionar com João, isso passou a fazer parte da rotina.