Afinal, o que querem as mulheres?
A chinesa de Anita Malfatti
Dia desses, recebi a seguinte mensagem: “Cara, na moral, li seu texto sobre todo homem ter um pouco de redpill. Cara, na moral, no seu mundo toda mulher é top? Não existe femista, todo cara é um estuprador em potencial? O homem tem de sentir, mas ser viril, tem de saber lidar com a mulher empoderada, mas ser o cara. Que bizarro. Sabe, na moral, não faço mais ideia do que a mulher quer hoje”.
Cara, na moral, é muito difícil saber o que as mulheres querem quando não há esforço para entender. Cada mulher é um universo particular com seus desejos e vontades. Quando falo constantemente do machismo é porque o entendo como um grande mal para as mulheres e também para os homens. Não é porque quero afirmar que toda mulher é um ser perfeito, sem defeitos (esse só tem um) e que todo homem é um babaca. Porém, o machismo que te foi ensinado leva a maior parte dos homens a terem, constantemente, atitudes babacas.
E se vocês não estão interessados em olhar para isso, em transmutar um monte de crença babaca, é porque o machismo, apesar de ser um grande mal, ainda os favorece. Quando vocês dão chiliques sem fim, é porque a crescente consciência das mulheres deixa de favorecer o domínio que vocês têm sobre nós. E isso, cada vez mais, graças às deusas, têm colocado vocês no cantinho do pensamento.
Apesar desses tiquinhos de incômodos, ainda há uma completa inabilidade em perceberem o óbvio. Vocês acham que virilidade, poder masculino, significa submissão feminina. E quando falo que gosto de homem viril de verdade, vocês não fazem ideia do que seja isso. A masculinidade de vocês, querido, está construída sobre a objetificação feminina, sobre o nosso consumo, domínio. Vocês precisam ser sempre os condutores ao tempo que subjugam nossa inteligência e poder. Nos usam para alimentar seus egos frágeis.
Em grande parte, são narcisistas. Querem que tudo gire ao redor dos seus umbigos (ou pingolas). As mulheres de hoje não suportam mais isso, embora muitas ainda não tenham conseguido sair desse lugar. A gente não quer mais ser objeto dos seus desejos infantis e primários. A gente quer ser sujeito. Queremos construir relações não mais de sujeitos-objetos como costuma(v)a ser e sim de sujeito-sujeito. Se a gente está numa relação dando afeto, atenção, cuidado, queremos receber o mesmo em troca. A palavra amor te parece estranha? E respeito? Responsabilidade com o sentimento do outro?
Chega a ser engraçado o quanto precisamos desenhar, ser didáticas para ensinar o óbvio. Adoro os vídeos do mundo invertido de @claudiacampolina porque ela deixa os problemas muito evidentes usando o mecanismo de troca de papéis. E por que vocês não acham que todo homem é um estuprador em potencial? Não entendem o que significa “em potencial”? Nem se dão o trabalho de dar um Google, pesquisar por conta própria. Ficam querendo que a gente seja as mãezinhas de vocês, dando tudo de mão beijada.
Quando vão crescer? Quando vão sair desse lugar de tantas inabilidades? Quando vão assumir responsabilidades e fazer o que precisa ser feito? Quando vão deixar de ser pratos de papa ou pudins (adoro ficar mandando emoji de 🍮 para um amigo)? Fico impressionada como muitos não se incomodam nem um pouco com o mal que fazem. Não estão nem aí para se revisar, para reconhecer suas atitudes cagadas. Enquanto faço um trabalho de apontar diversos problemas, fica mais fácil me xingar do que olhar para si.
Semana passada ouvi o videocast Desculpa qualquer coisa com Tati Bernardi e Juliette, onde rolou um debate bem interessante sobre esse tema. Tati gosta de perguntar para as convidadas se o companheiro já se comportou de forma estranha quando a mulher teve algum destaque profissional, como lançar algum trabalho, receber um prêmio ou coisas do tipo. Não só Juliette, mas todas respondem que sim. Isso já aconteceu comigo. Até de amigos homens ou paqueras costumo perceber certo incômodo quando tenho destaque profissional.
Termino perguntando: afinal, o que os homens querem? Mães, serviçais, objetos sexuais ou companheiras? Você tem coragem de assumir seu comportamento escroto, que te faz um ser inábil para o cuidado e amor? Que te faz um egoísta, narcisista, te impossibilitando de se preocupar com o sentimento das mulheres que você consome em série para tamponar suas feridas emocionais? Que essas mesmas feridas emocionais te torna inseguro, mesquinho, a ponto de você precisar desqualificar qualquer sucesso da parceira? Por que mesmo uma mulher que conquista coisas, que não é submissa, te ameaça tanto? Será que há aí alguma clareza do tipo de homem que você é e o tipo que gostaria ser?