Já tive tantas ansiedades, tantas buscas. Hoje, sabe-se lá porque, tenho saboreado mais a presença
A colheita, milharal com ceifeira de Vincent VanGogh
Me defino como ser obsessivo para além dos termos psicanalíticos. Coloco a culpa no meu mapa astral, no excesso de Capricórnio. Acho que foi a astróloga Isabella Mezzadri - inclusive, maravilhosa - que disse que o mais harmônico é estarmos na energia de nosso sol. Sou leonina, movida a paixões, criações. Também estou sempre criando, planejando, me apaixonando. Tenho uma lista de pelo menos cinco projetos para concretizar logo. Não sei ser diferente. Mas, mesmo criando tanto, projetando tanto - inclusive, devo ter estudado arquitetura, assim meio perdida e não exercendo mais para desenvolver essa habilidade - algo em mim parece que estabilizou.
Não sei se isso se deve por muitos algos concretizados. Não sei se se deve a um súbito sentimento de confiança. Tenho um bocado de sorte na vida. Uma conexão meio mágica com os cosmos. Talvez, todas nós tenhamos e só não conseguimos perceber. Vou contar uma história desastrosa que acabou me levando para onde eu queria estar, mesmo sem saber.
Quando terminei o mestrado, passei dois anos dando aulas em Caruaru, no interior de Pernambuco, numa faculdade de arquitetura. Mas, antes de terminar o mestrado, estava perdida. Então, submeti um projeto de doutorado na USP. Ansiosa, precisava logo dar o próximo passo. Na minha linha de pesquisa só passaram 4 alunos para a segunda fase. Haviam 4 vagas. Fui para São Paulo bem feliz fazer a entrevista da seleção. Jurava que seria aprovada. Na entrevista, senti que meu projeto não foi tão bem aceito. Olhei de canto de olho, obviamente, nada falei.
Se houvesse passado, não teria a oportunidade e a experiência de estar em sala de aula por dois anos. Acabei de lembrar, também não passei na primeira seleção de mestrado. Fiz para UFPE e acabei, não sei como até hoje, reprovando na prova de inglês. A ansiosa, não tinha também nem apresentado o TCC quando participou da seleção. No ano seguinte, por acontecimentos nada planejados, acabei passando no mestrado da UFRJ e vindo morar aqui no Rio. Mudança radical de rota e nunca antes sequer imaginada, planejada ou sonhada. O sonho do Rio era de outra pessoa e eu o comprei.
Durante os dois anos como professora, pude voltar para os estudos de teatro. Nesse momento, sabe-se lá porque, me (re)descobri escritora. Resolvi, também por acontecimentos não planejados (homem, no caso, mas, por favor, vocês não contem a ninguém senão vou ficar desmoralizada), vir passar férias no Rio com intenção a mais de fazer cursos de verão de roteiro e teatro. Nunca antes na vida tive férias, carteira assinada, dinheiro. Ser professora me proporcionou muitas coisas. Nesse momento, acabei me reconectando a essa cidade. Senti vontade de estudar cinema na Darcy Ribeiro.
Não sei muito porquê ainda insistia na ideia de fazer doutorado na USP. Em 2016, lá vou eu novamente submeter projeto. Viajo para São Paulo para fazer uma nova entrevista. No fim, escuto: seu projeto de pesquisa não tem como ser realizado. Reprovada. Nem tinha pensando em tentar UFRJ porque achava que tinha que mudar de programa de pós-graduação. Mas, morar em São Paulo, não era meu desejo de alma. Devia ser só uma teimosia. Um desafio. Uma vontade de um novo desnecessária.
Por coincidência, o edital da UFRJ havia atrasado duas semanas por conta de um incêndio no prédio da Reitoria. O desastre que mencionei. Desde o resultado da USP, tive menos de uma semana para enviar projeto, documentos. Fui aprovada. Durante o doutorado, estudei mais teatro, me formei em roteiro de cinema na escola que sonhei anos antes, ganhei prêmio por uma peça de teatro escrita. O meu projeto de pesquisa, aquele que foi dito que não era possível ser realizado, sofreu ajustes, principalmente por conta do meu desejo de unir dois universos - cinema e urbanismo - e acabou sendo premiado com a melhor bolsa da turma.
Obviamente, antes de terminar o doutorado, estava eu, mais uma vez, mergulhada em angústias, no próximo passo, estava definindo estratégias para fazer o pós-doc. Mas, no fim, esse não era meu genuíno desejo. Acabou não dando certo, ainda bem. O resto da história, vocês têm acompanhado por aqui. A vida sempre acontece muito além dos nossos planos. Mas também por conta dos nossos planos, às vezes, escondidinhos em nosso interior. A mágica do universo dá um jeito. Não que um pouquinho de obsessão não ajude, ajuda. Tenho também visto o lado positivo do meu jeitinho transtornado.
Bem possivelmente, por perceber todas essas voltas, todas essas escolhas certas/erradas, mas que me trouxeram onde eu queria e devia estar, tenho ficado menos ansiosa. Muito mais presente, muito mais confiante. Saboreando o mais gostoso sabor, o que dificilmente conseguimos provar: o agora. Bem coach motivacional esse final, né?!