Saber o que se quer e comunicar o que se sente, um grande poder
Planos em superfícies moduladas - Lygia Clark
Perceber o que quero a cada momento, sem estar no piloto automático, é algo que me interessa. Divagar sobre os porquês do meu desejo também. Já escrevi um bocado sobre isso, inclusive. Desde de meu Retorno de Saturno tenho estado mergulhada nesses movimentos. Questionar a carreira, o que estudo, o que me influenciou a viver certos relacionamentos, o que me move a cada instante. Coisa de quem tem cabeça frita.
Nessa jornada, uma nóia que me bateu forte nos últimos tempos foi de que em diversos momentos da vida eu não tive nenhuma consciência das minhas escolhas. Mesmo com alguma intuição, segui fluxos. Vivi padrões impostos. E uma nóia mais pesada ainda foi de que, muito frequentemente, fiz uma coisa querendo fazer outra, não comuniquei para as pessoas que me relaciono (não só afetivamente) o que sentia e o que queria a cada momento.
Essa consciência surgiu recentemente. Fiz um tratamento com florais astrológicos bem catalisador. Ele se chama limpeza das serpentes ou de limpeza de pai e mãe (das crenças) ou ainda de limpeza lunar e solar fazendo referências a nossa parte feminina e masculina. Essas porções mágicas nos dão uma clareza absurda do que é nosso e o que não é nosso. É um processo difícil, angustiante, e muito cheio de insights sobre o passado. Estou terminando a segunda fase dele. Nunca na vida me senti tão eu. Quase uma Daniella 2.0.
Como estamos aqui em meio a mercúrio retrógrado em libra e numa lua minguando em câncer, repensar a forma como nos relacionamos afetivamente anda vibrando. Resolvi trazer memórias desse processo. De quando disse para alguém que amava ir embora quando no meu íntimo gostaria de ter dito para ele ficar. Esse insight surgiu no primeiro vidrinho do floral lunar. Na terapia, chegamos a conclusão de que eu não fui honesta comigo por falta de clareza do meu desejo e por priorizar muito mais o racional (o lado solar) do que o sentir (o lado lunar). Havia, no fim, muita inconsciência de ambos os lados.
As consequências disso foram terríveis, me levou para lugares sombrios. Porém, me ensinou. Se transformou nesse agora. Nesse um pouco mais de consciência, anos depois, quando me coloquei dentro de algumas buscas. Hoje não quero cometer mais esse erro. Acho que ando assustando os homi por aí com minhas verdades. E não tenho me importado muito. Tenho estado muito mais segura com as vulnerabilidades. Com um possível afeto não correspondido. Ou com um novo amor que pode me fazer mudar de rota.
Se viver é estar vulnerável, amar é mais ainda. Se relacionar é pura vulnerabilidade e não lidamos com isso. Para uma relação acontecer, dois seres com desejos semelhantes precisam se encontrar, ter alguma clareza sobre o sentir, comunicar um ao outro e equacionar os conflitos que, com certeza, vão aparecer. Amar com liberdade, sem controle e sem domínio requer o encontro de duas pessoas muito despertas e disponíveis. Coisa, de fato, difícil.
De modo geral, talvez a gente ainda se entenda pouco. Talvez, a gente não consiga lidar com as vulnerabilidades do sentir. Talvez ainda busquemos relacionamentos por coisas não nossas. E assim perdemos muito. Principalmente, nossa paz. E ninguém vive bem estando imerso num mar de angústias. A paz requer muita entrega ao fluxo da vida. Presença. Enxergo nossa vontade sempre como deusas interiores e guias. E aqui falo das mais honestas vontades, não de vontades de outros ou de nossos traumas e vazios.
Sobre relacionamentos, repito sempre para as migues: ninguém existe para atender nossos desejos e expectativas. Esquecemos disso. Muitas vezes, manipulamos o outro inconscientemente para que ele nos sirva. Quando o mais honesto seria dizer: você quer dançar comigo? Eu quero muito dançar com você. Você gosta de dançar mais juntinho ou separado? Acho que consigo sim dançar mais devagar. Assim está bom para você? Eita, essa música não está mais agradável para mim. Quero ir embora, sinto muito se isso vai te deixar triste. De repente, em outro momento, a gente pode se encontrar.
Relacionamentos afetivos podem ser encarados para muitos, como para o autor Eckhart Tolle, como uma prática espiritual. Uma jornada para aprendermos a nos libertar das energias do ego e aprender a amar de verdade. Tem uma passagem desse autor que é um presente. De que relacionamentos não são para nos fazer felizes. São para nos trazer consciência. Se a gente partir com essa perspectiva, penso que podemos sim ser mais felizes e em paz com nossos encontros e vínculos.