Será que homens são mais capazes de acumular poder e fortuna?

Poster 1 de María Izquierdo

Homens, provavelmente, são mais antiéticos. Então, de forma escrota, conseguem sim acumular mais poder e fortuna. Tirando esse aspecto - inclusive porque acho infundada a crença de que quem tem dinheiro é necessariamente escroto - por que será que as mulheres são minorias nesses espaços? Por que mesmo sendo extremamente capazes - até bem mais que os homens - não dominamos os negócios, nem a política?

Se pensarmos na eleição ao cargo da Prefeitura de São Paulo, conseguimos perceber um pouco desse cenário. Ainda mais diante do vexame recente. Estudo política urbana e de moradia há duas décadas, acho interessante a militância de Boulos nessa agenda, porém, pensando no campo progressista, Tabata é nitidamente a candidata mais centrada, com mais habilidade, capacidade de negociação e execução política. Por que sua candidatura não está nos primeiros lugares das pesquisas? 

Dias desses, ouvi ao podcast Mamilos com a empresária e chef de cozinha Irina Cordeiro e achei sua postura incrível. Sua fala já havia me chamado atenção em outro podcast, quando contou que precisou demitir parte de sua equipe, pois a enxergavam num lugar de “mãe compreensiva” ao invés de líder. Trabalho é trabalho e por mais sensível e cuidadosa que possamos ser, há limites. Estando nesse mesmo lugar, já vivenciei dificuldades semelhantes. 

Porque as pessoas, mesmo as mulheres, têm dificuldade de respeitar líderes mulheres? Não acho que mulheres para serem respeitadas precisam ser escrotas, tipo Miranda Priestly, em o Diabo Veste Prada. Já discuti sobre em minha terapia. Minha conclusão foi: se para fazer o trabalho dela, a pessoa precisa ter do outro lado alguém que cobre, que infernize, que humilhe, essa não é a pessoa certa para estar comigo. Vivenciamos também no mundo do trabalho a necessidade do aprendizado da imposição de limites. É sempre muito fácil e histórico se sentirem no direito de ultrapassar os nossos.

No Mamilos, Irina falou da culpa que temos em ganhar dinheiro, em fazer sucesso e de como a terapia tem lhe ajudado a se livrar desses pesos. Você imagina um homem no divã falando para seu terapeuta de sua grande culpa por ter se tornado milionário? Por ter criado um negócio extremamente bem-sucedido? Consegue imaginar um homem carregando esses sentimentos? E por que eles são tão comuns para nós, mulheres?

Mulheres, inclusive, colocam culpa em outras mulheres quando elas alcançam o lugar de sucesso. E não me parece inveja. Me parece muito mais um “como assim ela se sentiu no direito de alcançar esse lugar que não cabe a uma mulher?”  Hoje, com ajuda das redes, tem se propagado a mensagem que mulheres bem-sucedidas são “incompletas, infelizes e solitárias”. Será que nós, também, não estamos presas, de alguma forma, no arquétipo da sofredora? Da Virgem Maria? 

Desde criancinha, sempre quis ser rica, poderosa, milionária. Não sei nem muito bem porquê e nunca foi a qualquer custo. Me conhecendo mais hoje em dia, suponho: desejo desafiar o status quo, desejo contribuir com algumas mudanças necessárias. Sempre me chamaram de sonhadora, iludida e um monte de coisa mais. Outro dia, uma amiga muito fofa me disse: você me inspira a também querer ocupar esse lugar, a me fazer acreditar que tenho direito.

Vivemos num mundo de extrema pobreza e carência. Para os conscientes, impossível não sentir um pouco de culpa. Mesmo assim, não podemos deixar essa culpa nos paralisar. Afinal, se nascemos com um pouco mais de consciência, um pouco mais de privilégio e oportunidades, podemos usar nosso lugar com responsabilidade para contribuir. E, se geramos valor, é natural e justo que esse valor retorne para nós. Podemos encarar o dinheiro como uma forma de troca de energia.

Dinheiro também é poder e o poder é o ativo mais importante no direcionamento do movimento social. Se mulheres, pessoas negras, e todas as demais minorias não ocuparem lugares de poder, continuaremos sendo subjugadas. Para mim, isso não faz parte de um feminismo liberal. Gostemos ou não, isso me parece ser reflexo da realidade material na qual estamos inseridas. E ela não vai mudar nem no curto, nem no médio prazo. Ou seja: a quem serve essa culpa?


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Afirmo sem medo: mulheres são melhores CEOs que homens.

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Hoje me permito reforçar: o machismo, a misoginia, além de criminalizada, precisa ser tratada como patologia.