Afirmo sem medo: mulheres são melhores CEOs que homens.

O japonês de Anita Malfatti

Não é que somos biologicamente mais capazes. Naturalmente, acredito: ambos podem ocupar com maestria espaços de liderança nos negócios. Mas, sabe o que percebo? Homens não têm se preparado tanto quanto as mulheres nas últimas décadas, nem intelectualmente, nem emocionalmente. A fala recente e equivocada de Tallis Gomes, ex CEO da G4 Educação, reforça meu ponto de vista. 

Nossa sociedade, infelizmente, tem produzido homens fracos e incapazes em muitos sentidos. Pensemos no combo pornografia, sexo, álcool e drogas ilícitas - agora podemos adicionar também jogos de azar, infelizmente. Vocês acham que as mulheres estão tão mergulhadas nesses males como os homens? E antes que venham culpar as mulheres que criam seus filhos assim, pensa no exemplo que os próprios pais têm deixado para seus filhos.

Nós, mulheres, estamos muito mais imersas em culpas, na síndrome de impostora, em várias pressões, como o desejo de não depender de homens e a necessidade de dar conta de várias esferas ao mesmo tempo. Por mais que tudo isso nos atrapalhe, nos atrase, também tem nos empurrado para o desenvolvimento. Faça o seguinte exercício: olhe para seu entorno e mapeie essas questões. De modo geral, como estão e como agem os homens e as mulheres que você conhece?

Estive por anos dentro da universidade, de centro acadêmicos, me impressionava, por exemplo, a desestrutura de vários colegas homens na produção de suas dissertações e teses, enquanto as mulheres as desenvolviam, via de regra, com mais eficiência e qualidade. Embora, infelizmente, sendo frequentemente mais massacradas nas bancas de avaliação. Muitas vezes, de forma desrespeitosa. Inclusive, pelos próprios orientadores e orientadoras. 

A fala “Deus me livre ter uma mulher CEO”, acompanhada da sequência vexatória sobre energia feminina e masculinização das mulheres que ocupam cargos de liderança, reflete, com todo respeito, uma burrice e despreparo. O que me dá ódio é que esses coachs picaretas pegam um conhecimento importante para humanidade, como as teorias formuladas pelo psicanalista Jung e a transformam em puro suco de conservadorismo, em estupidez e vão convertendo conceitos sem sentido em consenso.

Outro dia, ouvi a um podcast na área de negócios com um coach desses, que tem uma plataforma chamada Segredo dos relacionamentos e possui, pasmem, 3,2 milhões de seguidores no Instagram. Ele afirma ser teólogo, filósofo e psicanalista. Fico pensando na capacidade intelectual dessas pessoas que, mesmo tendo acessado conhecimento, não têm capacidade alguma de interpretar corretamente a realidade.

Os papéis de gênero defendidos por essas pessoas não fazem mais sentido, embora ainda possam perdurar como resquícios de um passado não distante. Mulheres não vão ficar apenas na esfera doméstica, gostem ou não. Você, mulher, não precisa se apequenar e se curvar a esses ditames porque deseja casar. Sendo incapazes como são, pelas dificuldades materiais do próprio sistema capitalista, pouquíssimos homens podem ser os provedores que esses coachs defendem. E acho difícil que os homens de hoje se sintam realmente atraídos por mulheres submissas. 

Sabe o que tudo isso me parece? Marketing digital, estratégia para vender curso, mentorias, arrancar dinheiro, principalmente das mulheres, por valorizarmos o casamento. E o perigo, a tragédia, é esses desconhecimentos estarem se tornando senso comum a ponto de um grande empresário reproduzi-los sem culpa. Talvez, esses coachs hotmart sejam mais perigosos que jogos do tigrinho e muito mais difíceis de serem regulados. O do podcast que mencionei, por exemplo, afirma já ter tido mais de 10 mil alunos e alunas, sendo a maioria mulheres.

Com Antônio na barriga, várias preocupações me atravessam com mais força. Quero contribuir com a formação de um homem capaz, forte, com caráter e inteligente. O meio, infelizmente, é assustador. Enquanto Nina, minha sobrinha, tem acesso a narrativas mais profundas, como Frozen, Moana, Encanto, o filho de João acaba só consumindo narrativas de violência, de super-herois. Isso é só um pedacinho do imenso iceberg. Há tanto trabalho a ser feito nesse campo e, infelizmente, ainda são pouquíssimas iniciativas bem-sucedidas.


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