Por que o sugador de clitóris, a sensação do momento, causa tanto medo nos homi?

O guia - René Magritte

Se tem uma pessoa que espalha a palavra do sugador de clitóris, essa pessoa sou eu. Descobri essa maravilha em 2019. Como grande entusiasta, falava em mesa de bar, em todos os lugares. Lembro do namorado de uma amiga questionando: e agora, qual será minha serventia? Já o outro, perguntou se a namorada preferia um sugador de presente de aniversário ou uma bicicleta. A gente só conhecia aquele mais caro e eu ainda não vendia o perfeito, sem defeitos. Ou seja: na época era de fato um grande investimento. Minha amiga acabou escolhendo a bicicleta.

Com esse pequeno recorte podemos perceber que existem, praticamente, dois tipos de homens: os que temem as revoluções tecnológicas para o prazer feminino e outros que se associam a ela, até oferecendo a maravilhosidade de presente às suas companheiras. Afinal, homens e máquinas, mulheres e máquinas, podem sempre ser uma combinação excelente. Perceba, você não está aí me lendo no seu smartphone, tablet ou pc? Não é uma facilidade? A tecnologia não tem ajudado na nossa conexão?

Outro dia, um amigo brincou quando estávamos numa festa: cadê o perfeito, sem defeitos para dançar forró com vocês, disse apontando para mim e Gabriela. Foi esse o seu modo de reconhecer seu valor. Se não é para nos fazer gozar, pelo menos para dançar forró ele serve. Realmente, o medo de ficar obsoleto existe. Fico aqui com meus botões me perguntando e refletindo sobre as razões. Acho engraçado, compreendo um pouco o movimento e, ao mesmo tempo, penso ser sem sentido.

Apesar da grande dificuldade de interpretação de texto devido a quantidade de xingamento que recebo aqui, nunca defendi substituir homens por sugadores. Nem que homens sejam cancelados ou extintos do universo, deusulivre. O que defendo é nosso lugar de autonomia, de não dependência de relações terríveis. E outra: masturbação é uma coisa completamente diferente de sexo, minha gente. Se a gente está, de alguma maneira, preferindo só se masturbar ao invés de transar (sim, têm mulheres fazendo esse movimento) é porque estamos cansadas de ser maltratadas. 

Vocês têm noção da quantidade de homi que nos tratam como Zé Delivery? Há um tempo fui jantar com um que, sem pudor, não queria esperar e sugeriu eu levar o prato embalado para casa. Até entendo, o sonho dele deveria ser me comer, mas não custava nada ter paciência, diálogo. Na real, estamos cansadas de tanta desimportância. Não que a gente não possa ter relações de cunho exclusivamente sexual. Sou a favor de tudo. O lance é que trocar faz parte. Senão, estabelecemos relações de sujeito-objeto. O sugador é um objeto. Eu sou humano. Você, homem, é humano.

Sabe o que tenho sentido? A maior parte dos homens do meu círculo estão num estado latente de sofrimento. Não que eu e minhas amigas sejamos o supra sumo das bem resolvidas. Não, todas temos questões. Mas vejo os amigos e os homens que me relaciono bem mal, com as cabecinhas atrapalhadas. Descompensados. Há muito medo. Medo de causar expectativa, de se envolver, de sofrer, de fazer sofrer. E também de, por todos os desequilíbrios evidentes, de nos violentar. Não é confortável estar no lugar do algoz. Falo isso dos mais conscientes. 

O medo de uma maquininha, no fundo, muito possivelmente, existe porque eles não querem deixar de receber afeto. E isso é compreensível. De modo geral, homens são socializados para serem meio crianças mimadas. Então, estão habituados a serem o centro das atenções, dando muito pouco em troca. E a gente tá aqui, nesse momento, dizendo: só quero me relacionar com quem sabe trocar. Senão, prefiro ficar de boas, gozando em paz com o meu sugador. Óbvio, para eles é uma perda. Mas também é um incentivo para sair de um lugar de merda.

Ou seja: se você, homem, está com medo de ser trocado por um aparelhinho maravilhoso - que não será, óbvio, mas fácil o aparelhinho se tornar um aliado - talvez seja porque exista uma consciência ainda inconsciente do quão pequeno você está nesse momento. E eu não quero mesmo homem pequeno não. Nem minhas amigas e leitoras maravilhosas. Queremos homens (para quem gosta, claro) da nossa altura. Não de 1.54m exatamente, falando do meu caso. Queremos da nossa altura em nobreza. 

Para fechar, trago Paulo Freire: a grande tarefa humanista e histórica do oprimido é libertar a si e o opressor. Não que um sugador de clitóris vá libertar os homens. Não é isso. Mas o movimento que nós, mulheres, temos feito em busca de nossa liberdade e autonomia ajuda também os homens. Eles não deveriam temer tanto. Deveriam estar do nosso lado. No fim, estamos lutando para que relacionamentos não se tornem guerras de domínio, territórios de conquista (falo isso para mim também, confesso meus crimes) e escravidão. E sim espaços genuínos de afeto e proteção. Bora juntos mudar esse jogo?


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