Mães merecem gozar

Os Dez Maiores, Nº 1, Infância de Hilma af Klint

Mães são mulheres. Antes de tudo, mulheres. Não esqueça: mulheres. Mães não são seres puros e imaculados.

Em nossa sociedade ocidental, o grande arquétipo posto para as mães é o da Virgem Maria. Como as narrativas, inclusive as religiosas, formam boa parte de nosso inconsciente, como entendemos o lugar das mães no mundo? Se abnegar das nossas vontades, dos nossos desejos, já está posto para as mulheres, imagina então quando nos tornamos mães. Gozar vira, para muitas, infelizmente, quase um lugar de proibição.

Lembro de amigos fazerem piadas sobre suas mães não transarem, a última vez teria sido para concebê-los. Na época, achava ridículo, mas ainda não entendia: era machismo. De onde vem a ideia do ser homem não lidar com o fato de que sua mãe transa, sente prazer íntimo? Será que esses homens têm o mesmo tipo de pensamento sobre os seus pais? Provavelmente não…

Desenvolvi uma pesquisa abordando o tema da sexualidade através de diferentes aspectos, incluindo a maternidade. Se você não respondeu e quiser responder, o link está aqui. Umas das perguntas é: depois que se tornou mãe, quais foram as dificuldades principais que surgiram diante do desejo de explorar e/ou vivenciar sua sexualidade? 

Além da falta de tempo, do cansaço, muitas reforçam: parece que estava fazendo algo errado. Muitas falaram do processo de resgatar a sexualidade após se tornarem mães e de perderem o desejo sexual por seus parceiros pela ausência de comprometimento desses homens com o cuidado dos filhos e da casa. Houve quem relatasse a perda de libido pelos seus companheiros também por eles “forçarem” as relações íntimas. Os relatos de separação pós-maternidade são numerosos nessa pesquisa.

Nada de novo. Nos colocam no lugar da servidão. Mas, viemos para ser. Não por acaso, o tema da sexualidade é muito importante para as mulheres, incluindo as mães, porque a vivência saudável da nossa sexualidade, como também do amor, é algo que nos foi roubado.

Já já adentramos o mês de maio e vamos ser bombardeados com imagens de pureza e servidão das mães. Da mesma forma que o dia da mulher, as peças publicitárias criadas para esse dia, como aspectos da nossa cultura, acabam contribuindo na forma como vemos e como performamos o ser mãe.

E não é que você tenha que presentear sua mãe com um Perfeito, sem Defeitos para lhe dizer: você merece gozar. Mas, pode ser que ela goste de receber um. Inclusive, muitas filhas compram para as mães e muitas mães para as filhas. Filhos comprando para sua mãe ainda não tive notícias. Para além da data comemorativa, meu desejo é  lembrar o óbvio: mães merecem e precisam experienciar o prazer. Não há nada de errado nisso. Não há egoísmo. Sentir coisas humanas, aproveitar a vida, é direito. Mas, sem pressão. Tudo no seu tempo e de acordo com suas vontades. 

Já viram algum filho ou filha presentear um pai com uma geladeira? Não, né?! Porque será? Uma ótima sugestão de presente para sua mãe é lhe dar uma sessão de massagem, se puder, uma viagem que ela queira. Para minha, estou querendo presenteá-la com uma consultoria financeira. Afinal, ter dinheiro investido é ter também certa liberdade.


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Mulheres também se sentem frustradas porque dedicaram grande parte do seu tempo, da sua energia, ao cuidado, aos homens.