O amor mais lindo e perene é o da amizade, principalmente entre mulheres.
As costureiras de Tarsila do Amaral
Os últimos anos foram tão intensos para todas e todos nós. A gente tem lidado com tantas transformações. As coletivas, não tenho dúvidas, refletem profundamente em nossos processos individuais. Na minha vida, tenho percebido um movimento interessante. Talvez, ele também faça sentido para você. Me aproximei muito, muito mais, e intensifiquei minha relação com as mulheres.
Como a maior parte de nós, ao longo da vida, dediquei muito mais meu tempo aos homens. Até mais com os amigos homens. Já fui a idiota que pensou que era mais fácil se relacionar com os homens do que com as mulheres. O universo feminino e sua dedicação aos relacionamentos sempre me irritou. Sabe aquele papo de rodas de amigas no qual o assunto principal são os boys e os romances? Pronto, nunca me agradou. Sempre achei fútil. Sempre me preocupei mais com meu crescimento profissional, com os estudos. Como ganhar dinheiro. Como contribuir com as necessidades sociais. Então, não tinha tanta paciência.
A grande questão é que eu não entendia tanto o “x” da questão. Porque as mulheres agiam assim. Até fui a menina que brinquei de Barbie. Porém, me nego profundamente a entrar no hype do filme e usar ele como o assunto do momento. Entendo que a roteirista que o escreveu é foda, que ele traz discussões interessantes, mas ainda o acho fútil. Me interessa mesmo outras pautas.
Vivi um relacionamento muito terrível antes até de, inconscientemente, fazer um movimento de me aproximar mais profundamente das mulheres. Nessa relação, como todas as que são abusivas, ele criava estratégias para me isolar, para me separar. Assim, hoje sei, ficava muito mais fácil me dominar, me violentar.
Lembro de numa ocasião ele pegar meu computador e ler uma conversa com uma amiga. Morando longe do meu ciclo e da minha família, desabafava com ela sobre sua postura desequilibrada, seu ciúme. Ele justificou ter lido a conversa sem querer. Mentira, obviamente. Na sequência, fez questão de desqualificar minha amiga. O clássico: ela tem inveja de você, não quer te ver feliz, não gosta de mim. E eu não devia falar dos nossos problemas para ninguém, nossos problemas eram só nossos.
Ainda bem, não sucumbi. Não só essa atitude como muitas outras me fizeram me afastar dele. Depois do fim, dividi apartamento com algumas amigas, me aproximei de muitas outras. Fui me fortalecendo pouco a pouco e entendendo a dimensão de vários problemas. Passei a ter mais paciência para as conversas que, um dia, considerei fútil. Fui podendo ser ombro para elas e elas para mim quando precisei.
De modo que hoje posso dizer: amem, se apaixonem, busquem relacionamentos saudáveis, mas nunca se afastem das amigas, dos amigos. Eles e elas são o elixir da felicidade em nossas vidas. São nossas amizades que, muitas vezes, nos tiram dos buracos, que abrem nossos olhos quando não estão nos tratando de forma adequada, quando estamos fazendo merda. Às vezes, não é fácil ser a amiga que diz duras palavras, que faz aquela intervenção necessária. Quando isso acontece, pode ter certeza, do outro lado só existe preocupação e amor.
Temos tempos sempre escassos entre desejos, compromissos, necessidades. Hoje não estou tão perto de muitas mulheres que já estive um dia. Sinto, por vezes, culpa. Tento criar oportunidades de resgate. Nem sempre consigo. Porém, meu amor segue inabalável. Tenho um bocado de sorte nesses tão números laços. E sei que essa sorte tem uma imensa dedicação da minha parte. Sinto todo o amor retribuído. Toda a admiração, mesmo distante.
Por isso, te digo: se você está num relacionamento afetivo desequilibrado, se reaproxima das suas amigas; se você está num momento de vida difícil, marca um café com elas, uma ida ao parque, chama para ver o filme da Barbie, se for sua vibe. Só não fica longe. Se possível, não se isola. A gente aprendeu erroneamente que o que mais importa é o casamento, os romances, a família. Para mim, minhas amigas e meus amigos são também minha família de alma. Nada mais me alimenta e me alegra do que estar perto.