Algumas palavrinhas sobre a mais emocionante posse presidencial da história do Brasil

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Não consegui me dar férias. Precisava escrever sobre esse momento. Registrar essa memória e sentimentos. Caramba, foi emocionante. Quando estava chegando na esplanada dos ministérios desaguei. Em termos políticos, vivemos muitos golpes desde o golpe de Dilma em 2016. São anos de ataque à saúde, à educação, à ciência, ao povo brasileiro, à vida do povo brasileiro. São anos de muita tristeza coletiva.

Muito tem me irritado esse discurso comum de influencers, principalmente do mercado financeiro, de que qualquer visão de política de esquerda  significa retrocesso. Principalmente, econômico. Para construir esse argumento, eles utilizam exemplos de países da América do Sul. Quase nunca citam o destrate social do neoliberalismo chileno. De como o desamparo é realidade para os mais pobres, para os aposentados de lá.

Todos esses discursos muito bem construídos contra a Venezuela e a inflação da Argentina não levam em conta como governos progressistas e aliados com o povo podem trazer profundas e benéficas transformações e um maior senso de identidade. Afinal, nós das Américas somos misturas de povos originários, africanos, europeus e todos os lugares. Estamos há mais de 500 anos descobrindo quem somos. 

Somos muitos, somos diferentes, somos potentes. Somos, de muitas formas, a resistência ao domínio do homem branco europeu. Isso é a realidade desse pedaço de chão. Não temos tantas mazelas ao acaso. Nosso território foi formado através de massacres, violências de todos tipos e sangue derramado. Nossa cor vermelha representa nosso sangue. O sangue vivo de quem luta, o sangue de quem foi assassinado. Com a pandemia, mais de 700 mil vidas se foram só aqui no Brasil.

Para termos exemplos de transformações promovidas por governos de esquerda não precisamos ir longe. No Brasil isso aconteceu durante o último mandato do PT. Só o programa de cotas nas universidades provocou uma profunda mudança social. O Uruguai, que teve os 15 anos recentes governados pela esquerda e, em especial por Pepe Mujica, tem um IDH excelente. Vários países europeus com governos progressistas possuem economias estruturadas e bons índices de qualidade de vida (mas eles roubaram nosso ouro). Não à toa milhares de brasileiros migraram para Portugal nos últimos anos.

Ontem foi tão emocionante não só pela vitória de Lula frente ao facismo e ao horror. Ontem foi emocionante pelo povo brasileiro poder comemorar junto depois de tanto tempo. Em minha frente, durante o discurso de Lula na câmara, duas mulheres se abraçavam e se beijavam carinhosamente. Achei a cena linda. A fotografei para sempre em minha memória. Quando Bolsonaro ganhou as eleições, um casal de meninas conhecidas de amigos recebeu em baixo de sua porta um bilhete de vizinhos as ameaçando, expressando a não aceitação de seu amor. Quando dizemos que o amor venceu o ódio é por isso. É por muito mais.

Celebramos cada um com sua diferença, origem, jeitinho. Juntos, emocionados, chorando, se abraçando e se beijando. Foi uma festa de multicor e de muito afeto. Uma honesta resistência a tudo que representa o horror do patriarcado. Certa vez escrevi que Bolsonaro é o último grito do homem hétero branco por aqui. Espero não estar errada. Tenho muita esperança de que cada vez mais o amor possa vencer o medo. Já estamos vencendo. 

Como disse algumas vezes, não é sobre direita, esquerda. É sobre o bilhetinho ameaçador e o beijo de comemoração. É sobre a composição de figuras na subida da rampa do palácio do planalto. É sobre a diversidade representativa dos ministérios. Vencemos! Mas é preciso estar vigilantes. O poder maléfico de quem detém o dinheiro e poder - os homens héteros brancos - vão estar sempre à espreita para nos destruir. É só vermos como são escritas as matérias dos grandes jornais. 

A luta precisa e deve continuar. Não podemos deixar esse quadro representativo que se inicia com esperança se destruir. Isso aconteceu em 2006, após a vitória de Lula em 2003, por pressão do congresso. Há muitos homens escrotos por lá. Ontem choramos, comemoramos essa vitória tão esperada. A mais bonita, emocionante e ocupada, a posse mais significativa da nossa história. Agora é trabalho. É estar à espreita. Política é feita no dia a dia. Não só no período eleitoral. Continuemos na luta. Essa vitória é nossa. Foi dura e sofrida. Por favor, nem um passo para atrás. Há um longo caminho!


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