Desimportância

Quando vamos aprender a cortar cabeças? A ser uma espada afiada?

Deusa Kali - autor desconhecido

Desimportância. Significado: falta de importância com algo. Por exemplo, ando em estado de desimportância absoluta com a guerra da Ucrânia. Estratégia de sobrevivência, eu diria. Não tenho como me importar, me afetar. Então, finjo não existir. Mas tenho dado importância exagerada a outras coisas. Aos meus sentimentos, a minha preocupação com o trabalho, futuro. Com o tratamento um tanto quanto desimportante que alguns homens insistem em me dar.

Você passa anos perto de alguém, compartilha sonhos, sentimentos, angústias. Reclama todas as vezes quando uma situação lhe faz mal. E o que acontece? A pessoa - pessoa não, no caso o homem - simplesmente não se importa. Não se preocupa com o que você sente. Ignora. Finge que o problema não existe. Igualzinho a mim com a guerra da Ucrânia. Estratégia de sobrevivência? De manter seus desejos sempre resguardados e nunca buscar equacionar?

É bem verdade que nós, mulheres, fomos socializadas para agradar e os homens para serem agradados, compreendidos, adorados. Profundamente amados. Gostam de ter todas as mulheres do mundo aos seus pés. Egos fracos. E a gente tem que ceder, entender. Nunca o contrário. Importância ao sentimento e desejo deles. Nunca aos nossos.

Por isso, gosto de virar mesas. Ainda mais agora que o sol entrou em Áries. Na real, com minha lua em Áries nunca me furtei ao barraco. Não engulo desimportância. Não engulo. Cuspo. Cuspo bem na cara. Penso que nós, mulheres, deveriamos ser mais como a deusa Kali. Cortar cabeças. Não precisamos, nem temos que ficar protegendo homens com medo de perdê-los. Podemos ser o mais profundo e doce amor e a mais afiada das espadas. Esqueçamos o papinho bobo do homem Vinícius sobre sermos só amor e perdão. Também somos guerra. Precisamos ser guerra.

Mesmo assim, já perdoei. Várias vezes te perdoei. Terminei e voltei atrás depois de teus insistentes pedidos. Mas você não me ouviu. Não entendeu o que me machucava. O que me fazia mal. Quando disse que meu tesão - sempre gigante - morreu por isso, te dei toda minha verdade de bandeja. A cuspi na sua cara. Mas não foi só para te ferir. Foi para te explicar. Para te mostrar a concretude dos fatos. Foi para você não insistir uma vez mais.

Por tempos, projetei alguns cenários de vida para te caber ao meu lado. Te apoie, te incentivei em tudo. Te disse “eu te amo” na primeira vez sem pestanejar. Ainda lembro da sua cara assustada. Recebi sim muito amor. Apoio, incentivo. Admiração. Você esteve do meu lado. Mas não me ouviu. Não foi sensível ao que me machucava. Me feriu diversas vezes. Me colocou em lugares onde eu não queria estar.

O fim chegou para gente quando tinha que chegar. É por aí. Sabia que escrevi esse poema para você num dia agoniado há anos atrás? Ali, naquele momento, não queria o fim. Essa possibilidade me entristecia. Anos depois, estamos aqui. E nada mais há. Apenas lembranças e uma sensação desoladora de que você não se importou, nem me ouviu. Tuas últimas palavras, saiba, me despedaçaram.

Mesmo assim, fico feliz pelo nosso tempo. Por nosso encontro. Há muitos tons de beleza nele. Mesmo distante, seguirei te amando. Quero ver bem, gigante. Admirado. E se posso te dizer mais alguma coisa é: se importa. Se importa. Não sai atropelando as mulheres da tua vida. Suas crenças sobre o que é ser homem te atrasam. É preciso mais cuidado.


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