Por onde anda o Boston Medical Group? Os homi precisam ser tratar

Os amantes - Francis Picabia 

Quem lembra daquela propaganda clássica: sexo é vida e a vida não pode parar. A dificuldade de ter ou manter uma ereção ou ejaculação precoce tem tratamento médico. Que pena que os homi tenham esquecido. Entendo as pressões em demasia de um padrão de masculinidade, mas não dá para eles ficarem confortáveis nesse lugar de tanta disfuncionalidade. É preciso se tratar. Não faço ideia de qual é o tratamento oferecido pelo Boston Medical Group. Só acho que a maior parte dos caras não têm problema biológico nenhum.

No quadrinho As rosas mais vermelhas desabrocham: O amor nos tempos do capitalismo tardio ou por que as pessoas se apaixonam tão raramente hoje em dia, a autora Liv Strömquist faz um mergulho em mitos, na filosofia e em estudos científicos para investigar como acontece o amor. Um de seus apontamentos mais interessantes é de que, diante do empoderamento feminino, nas relações heterosexuais, uma das formas dos homens manterem algum grau de poder tem sido negar às mulheres o amor. 

Indo nesse caminho, eu diria que negar o sexo também é uma forma - talvez muito inconsciente - de manutenção de poder. E os caras têm negado mesmo. Ou porque se vêem impotentes diante de mulheres desejantes ou porque até se colocam presentes no ato, mas não conseguem participar de modo minimamente decente. E não falo aqui da possibilidade de dizer não para algo que não se está afim. Ninguém deve se sentir pressionado a fazer o que não quer. Falo especificamente do cara que se relaciona com você, mas que não te come ou não consegue te comer.

Na minha visão romântica, encaro a relação sexual como um encontro de almas. Uma dança de energias humanas. Foda-se Lacan e sua fala de que a relação sexual não existe, que você transa com você. É mais complexo, eu sei. E, às vezes, é por aí. Mas não há nada mais gostoso do que transar com o outro. Sem relação de sujeito-objeto. Numa relação de sujeito-sujeito para ambos. Olho no olho, afeto, entrega, conexão, nem que seja só por uma noite. Sem preocupação com performance. Sem domínio. Uma dança onde o dar e receber está em equilíbrio. É esse o sexo que me interessa.

Apesar de vários boys bugados, tenho tido encontros incríveis. Sou do time da rainha Rita, sexo antes, amor depois. Gosto de conhecer e de me apaixonar o homem com quem me relaciono transando. Além de perceber se o cara está de boa no seu lugar de homem, observar como ele se porta no sexo diz muito sobre sua personalidade. Se é mais egoísta ou gentil. Se só transa com ele mesmo ou se comigo e muito mais. Não somos perfeitos, todos temos nossas inseguranças, traumas, questões. Só acho que o mundo seria mais feliz se a gente conseguisse viver o amor e sexo com mais tranquilidade e verdade. Esse é o caminho.

Hoje conto um causo de Joaquina. Por favor, me coma - ela disse em sua cama, de pernas abertas olhando para o boy por quem estava apaixonada. Mas não teve muito jeito. Ele passou o dia a atiçando. Prometendo uma noite intensa. E nada. Fake news. E assim, não foi a primeira vez deles. Na primeira ela relevou, podia ser a ansiedade do momento. Já era para lá da décima. Os dois estavam se gostando. Até fui apresentada e simpatizei com o boy da minha amiga. Mas depois ela me contou detalhes: ou era um, dois, três e já; ou, no máximo, meio mastro e sempre a deixava a ver navios. Palha-assada.

Na noite do “por favor, me coma” Joaquina foi corajosa. Já estava cansada de não entregar sua energia ao mundo. Depois de meio mastro e um, dois, três e já gozar e virar para o lado, ela abriu a gaveta da mesa de cabeceira, tirou seu perfeito, sem defeitos de lá (o sugador de clitóris que vendo, caso você não saiba) e foi transar consigo. Lacan aí teve razão porque nem para participar o boy serviu. Afinal, nem só de pão vive o homem. Se pau não funciona, tem mil outras formas de fazer o sexo acontecer. Se não fosse possível mulheres não morreriam de felicidade ao transar com outras.

Joaquina reclamou: ele podia ter entrado na brincadeira, ter segurado o sugador, ter controlado as intensidades, ter me tocado, ter me beijado. Ter feito algo. Nada. Absolutamente nada. Não dançou com Joaquina, não se conectou com ela nem pelo olhar. Praticamente a esperou terminar para dormir do seu lado. Nesse dia, Joaquina com ódio, pediu para ele dormir em casa. 

Sei que muitas mulheres ainda não conseguem viver sua sexualidade plena. Mas temos subido degraus. Estamos estudando, fazendo terapia, tratando traumas, conversando com as amigas, nos curando. E vocês, homens? Ao invés de resolver questões, estão ainda mais bugados. Não sou eu ou uma amiga que reclama. A reclamação é geral. E o pior: ainda nos sentimos culpadas pelas suas inabilidades. Afinal, tudo no mundo é culpa nossa. Vamos evoluir nesse pokémon aí, né?! Sexo é vida. Tratem dessa masculinidade capenga por mil e outras razões. Estamos cansadas de tanta merda.


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