Amores saudáveis são possíveis, mas dão trabalho
Os Amantes - René Magritte
Escrevo sobre uma jornada que faço há tempos. Esse é o tema do livro que estou escrevendo. Não sei quando conseguirei publicar. Minha vida anda maluca. Jornadas de trabalho de 12h/14h. Hoje, inclusive, é meu aniversário. Faço 36 tendo conquistado alguns objetivos e tendo muitos pela frente. Doar e vender um pouco da minha alma, como falava Clarice dos escritores, continua sendo um deles. Escrevo sobre amor porque o faço como forma de me compreender, de entender e entregar um pouco do que borbulha na minha mente.
Creio que muitos de nossos males derivam de um contato torto com o amor. Nessa conta, temos lógicas do patriarcado, as formas que aprendemos a nos relacionar com a família. São muitas questões. Infinitas. Quando terminei meu primeiro relacionamento mais longo, tendo apenas 21 e o tendo vivido por seis anos, me percebi completamente dependente e desejei nunca mais estar nesse lugar. Obviamente, tropecei repetidamente de modos diferentes em amores adoecidos. Sofri diversos tipos de violências de homens que não sabem amar, respeitar, ouvir, cuidar.
Por anos e anos tenho me perguntado: é possível viver relações afetivas saudáveis? Como atingir esse patamar? Essa foi, inclusive, uma das perguntas que fiz numa sessão holística de de tarot ano passado. Na minha pouca experiência, acredito que sim, relacionamentos saudáveis são possíveis. Mas não é fácil, não é como um passe de mágica. É preciso esforço, é preciso trabalho. Muito trabalho. É preciso certo despertar.
Compreender o machismo como um mal nos ajuda a não entrarmos num lugar de culpa por sermos traídas, abandonadas, agredidas e coisas horríveis mais. Nossas mães, avós, bisavós e toda nossa ancestralidade viveram violências intermináveis. Não tinha como a gente não estar traumatizada. Como eles não estarem cagados. Sendo o mundo como é, quais sentimentos como rejeição, baixa estima, medo, não merecimento, carência estão na gente? Como eles nos transportam para relações abusivas? Consegue olhar para isso? Entender como podemos ser vítimas do que está no nosso mais obscuro íntimo?
Daqui, continuarei gritando contra violências e cuspindo verdades na cara de quem me agride. Além disso, me pergunto, te pergunto: quais movimentos podemos fazer para não estarmos mais em lugares inóspitos? Gélidos e sem amor? Por essa e outras muitas questões faço muito trabalho de leituras, análise, thethahealing, florais, óleos essenciais, consultas místicas. Esse é meu caminho e não precisa ser o seu. Cada tem sua estrada. É só a gente procurar por ela.
Amo o tarot e não o vejo como um instrumento adivinhatório, por exemplo. O enxergo como uma ferramenta para acessar o inconsciente. Para mim, a terapia Junguiana faz mais sentido justamente por utilizar, por vezes, ferramentas menos racionais. Penso demais, racionalizo demais. Ir para o imaterial, o não palpável é o que mais me ajuda. Aos 36, já me conheço um pouquinho. Inclusive, tenho vivido processos malucos tomando florais astrológicos. Muitas angústias, melancolias, muita passionalidade e, principalmente, muita transmutação. Tem sido intenso.
Estava tomando um de limpeza lunar quando, justamente, me vi apaixonada. Vivendo esse relacionamento, percebi que não me sentia merecedora daquilo. Do afeto, do carinho, das coisas boas que estavam rolando. Nessas três décadas e meia até então, nunca havia me dado conta desse sentimento. Ele estava tão lá dentro, tão escondido e, de repente, veio à tona. Levei para terapia. Trabalhei. De alguma maneira, transmutei. Cheguei nele por estar na busca.
Como alguém nascida no último dia de leão, uma leonina bem apurada segundo minha mãe, tenho como crença maior de que merecemos uma vida plena e cheia de prazer, de abundância e amor. Tem um monte de coisa que atrasa nossa felicidade, fato. Mas o que podemos fazer para caminhar noutras estradas? Como pavimentar nosso caminho com pedrinhas de diamante? Como viver o amor, essa coisa tão incrível e essencial, de forma saudável?
Há trabalho a ser feito, paciência e ajustes. Coisa difícil para quem tem lua em Áries. Se tem uma coisa que tenho aprendido é: o encontro com outro é conflito. Por mais que seja amor, é conflito. Mas entenda: conflito e violência são coisas distintas. Conflito deriva de desejos diferentes, desencontros, de uma não percepção do que fere o outro. Não é uma ação de domínio. O amor é liberdade. Porém, não existe amor sem conflito. Amores podem ser saudáveis quando ambas as partes querem e escolhem estar juntos e dão conta de equacionar conflitos. Um coloca seu limite e o outro escuta. Diálogo e entendimento. Amor é labuta.