Não há nada na vida melhor que amor e sexo
Um travesseiro improvisado - Hokusai
Tem um amigo que fala “isso é melhor que almoçar”. Para mim, poderia ser “isso é melhor que trasar” ou “isso é melhor que amar”. Nem almoçar eu almoço. Minha rotina de trabalho costuma ser de duas da tarde até as duas, três, quatro, cinco ou seis da manhã. Sou uma pessoa de hábitos noturnos. E viciada em trabalhar. Tomo café da manhã ao meio dia. Preciso ser mais normal. Sempre fui assim. Às vezes, se aceitar dói menos, né?! Todo e qualquer médico tenta me mudar. Eu também tento. Há 36 anos sem sucesso.
Tava num rolê gostosinho escutando música. As narrativas são, quase sempre, sobre amor e sexo. Também gosto de falar sobre amor e sexo. Gosto de trabalhar exatamente com essa narrativa. Tenho outra amiga que fala com muita sabedoria: tudo que a gente faz na vida, afinal somos bicho, é visando amor e sexo. A gente quer ficar mais bonito, mais interessante, mais inteligente, com mais dinheiro, mais saúde mental, mais magro e sarado porque, no fim, queremos ser mais amadas e transantes.
Gosto dessa teoria. De verdade (chegou a hora de falar mal de homi, tem que ter essa parte), não consigo entender direito toda a resistência e medo que a maioria tem de se envolver. Não existe nada mais gostoso do que se envolver. É difícil, traumatiza em muitos lugares porque há muito ego e medo envolvidos. Além, lógico, do amor. Mas mergulhar em alguém, se derreter por alguém, amar e ser amada (incluindo um sexo conectadinho), é uma das coisas mais maravilhosas dessa fucking vida.
É lamentável que, num mundo cada vez mais individualista e hedonista, estejamos se perdendo. Estejamos consumindo pessoas sem tanta importância. Talvez, também, estejamos vivendo transições. Mesmo com toda negação, a gente exala amor e, consequentemente, sexo em quase tudo. Baby, vem dormir comigo. Baby, sente a luz do sol. Baby, sussurra no ouvido baixinho que acordar comigo é um travesseiro de manhã. Amo muito as músicas de Liniker. Uma safadeza romântica que me define bastante.
Agora outra questão, amor e sexo são também certas drogas usadas indiscriminadamente para tapar nossos buracos, vazios. A sensação de desamparo mencionada numa crônica passada. Já fui muito viciada nisso. Não que não seja. Mas faço constantemente um trabalho de ir fundo nas minhas laminhas. Escrevo para contar dessas jornadas, contribuir de alguma forma. A literatura me parece ter também essa função.
Não acho que em nenhum momento da vida fui viciada em gozar. A associação das viciadas no perfeito, sem defeitos, o melhor sugador de clitóris já produzido (link na bio) talvez não venha a ser fundada. Ou, talvez, eu não possa ser a presidente. Agora das pessoas viciadas em sexo e amor, já pode me incluir. Porém, tenho andado mais sóbria, mais consciente. Sabendo ler com mais clareza meus desejos e vontades a cada momento. E, principalmente, sabendo respeitá-los.
Não sou do time da pegação geral, embora eventualmente pratique. Uma coisa que observei em mim foi: pratico a pegação geral normalmente quando estou desestruturada, com medo, me sentindo vulnerável. Eu, Daniella, sei que muitas pessoas não são assim, principalmente, os homi, não pratico pegação geral quando preciso alimentar meu ego ou autoestima. Afinal, leonina com a autoestima mais ou menos em ordem. É muito mais quando estou querendo fugir. Não sentir. Só que sinto muito.
A minha essência é outra. Eu gosto de profundidade. De so deep inside. De estar com alguém que amo. Que conheço o cheiro, todas as qualidades e defeitos. Que me sinto segura ao lado. Que morro de tesão. Que admiro em muitos lugares. De estar com alguém que a conexão é, de fato, especial. E isso é raro. Me prendo a essas relações de forma louca. Apesar de tratar e pesquisar sobre meus apegos, tenho muito mais tentado aceitá-los. Não tô fugindo ou tentando mudar a força. Me criticando por não ser tão desapegada.
Nosso inconsciente coletivo - a arte, de modo geral, as narrativas que criamos - exala amor e sexo porque somos isso. Somos amor, sexo e nossos apegos ao que sentimos. Transmutar é preciso. Desapegar é preciso. Só fico pensando que não adianta muito forçar. E não estou falando de um lugar que desrespeita e te violenta, aí vale a forçar, fazer um yakisoba (meus amigos chamam intervenção de yakisoba). Mas, por vezes, ainda ficamos em alguns lugares porque precisamos deles. Tem vício, tem apego, tem prazer. Por vezes, ilusão. Pode ter também algo relativo a nossos desejos inconscientes e jornada de alma.